Este website é um projeto literário e um outro modo de publicação. 

Serve também como plataforma de divulgação da minha atividade profissional. Isto é, serve também para divulgar os meus serviços como redator, biógrafo, micro-editor, consultor de media e curador de conteúdos, sobretudo no âmbito de uma ideia chamada A Companhia da Palavra. Bem como outros projetos com letras em que tenho ocupado o meu tempo desde que troquei a azáfama das redações dos jornais pela procura da felicidade, da liberdade e da profundidade.

Chamo-me João Cruz e moro aqui: jpcruz(at)gmail.com

Fui jornalista durante cerca de vinte anos, em diversos títulos de Coimbra (Jornal de Coimbra, Diário de Coimbra e Campeão das Províncias) e como free-lancer e, antes de tudo isso, inacabei um curso superior de Arqueologia (que ainda hei-de acabar). Depois de uma experiência de um ano como coordenador redatorial e assessor de imprensa da ONG Cena Lusófona - Ass. Port. para o Intercâmbio Teatral, há cerca de dez anos que trabalho como independente, sempre na área da comunicação e das letras, seja na produção de biografias e monografias, seja na curadoria de conteúdos, escrita criativa, consultoria de média e comunicação pública. Nos intervalos, tento educar dois filhos, escrever e editar devaneios, ler muito, manter-me a par do mundo e das tendências dios média, manter uma pequena horta urbana e, ultimamente, aprender a tocar guitarra baixo.

Uma vez escrevi um livro. O livro ainda pode ser encontrado, por exemplo, aqui. Hoje tenho 47 anos e já não era propriamente novo quando o escrevi, embora eu próprio fosse manifestamente novo para a idade. O livro foi feito em dueto com a Susana Paiva, amiga e fotógrafa excelentíssima que ilustrou os textos com o seu olhar sensível e criativo. Escreveu-se, fotografou-se, imprimiu-se e publicou-se, com a chancela da Minerva Coimbra, que ainda hoje tem caixotes cheios do meu livro, guardados com o zelo de quem acreditou mais na obra do que o próprio autor. 

Este autor entretanto renasceu, mudou de cidade, mudou de vida. Era jornalista de imprensa e pus-me a caminho da mítica vida simples e discreta, debalde, como adivinha rapidamente quem já constituiu família, a alegria mais trabalhosa da nossa vida. Também deixei de escrever para públicos mais alargados, embora escrever e contar histórias continue a ser o que faço melhor, mas faço-o noutros moldes e com menos intensidade.

O livro, de resto, como que marca esse momento "limes" na minha vida, de território transicional. Hoje sou eu, mas durante muitos anos antes fui outra coisa qualquer que ficou lá para trás como um episódio histórico enterrado num manual. Mais que outro tempo, é como se fosse outro país. Isto para dizer que esse livro primordial, esse ensaio, estando nessa terra de ninguém existencial, acabou por ficar também um pouco lá para trás, esquecido. Isto é, pensava eu. À minha revelia, embora com a minha autorização, o livro também renasceu com vigor. E não só renasceu outro, como renasceu outros... 

E a ideia que me traz aqui é precisamente uma de renascimento. Do renascimento de um criador que finalmente sentiu que poderá ter algo, não direi novo, nem sei se isso realmente existe, mas pelo menos importante para dizer a um público mais vasto do que as edições particulares que tenho feito - sobretudo biografias encomendadas ou histórias de instituições. Resumindo, em termos puramente literários, andei em processo de maturação e pensei que já seria tempo de sacudir o torpor e florescer. 

Que é como quem diz, agora sim, percebo melhor o mundo e a linguagem e sinto-me pronto.

Depois daquele livro não criei mais nada digno de nota. Por um lado porque de facto não tenho encontrado nada de importante para dizer ao mundo e me acomodei à condição passiva de compulsivo consumidor mediático e cultural, inventando mil e uma leituras, biscates e formações - incluíndo um regresso à Universidade (arqueologia), um curso de verão de escrita para cinema e televisão (guionismo) e um curso de Permacultura, entre outros - para adiar um regresso ao outro lado da trincheira: o da produção criativa. Não de jornalismo, que já não exerço, mas de arte e de ensaio. Por outras, especializei-me em ver passar os navios. Mas o factor mais importante é realmente o de ter, ou não, algo substancial para dizer. Uma voz distintiva e diferente. A mim, como aspirante a escritor com vontade de legado, este factor é determinante: Ter o que dizer. Um propósito mais substancial do que propriamente ser aclamado ou ganhar dinheiro. Por um lado só quero dar a conhecer a minha obra e as minhas ideias sobre o mundo, por outro não tenho sequer a veleidade de esperar, para já, ganhar a vida a combinar palavras umas atrás das outras e a dar-lhes um sentido maior no escaparate de uma livraria, é um mercado sobrelotadíssimo e difícil. Mas neste regresso, se assim se lhe pode chamar, também pesa poder ter um talento e não o aprofundar ou uma competência e não a desenvolver; é um desperdício, e o desperdício é um quase-crime. 

Acontece que a atual cacofonia de criadores literários também intimida e sinto ser extremamente difícil ter uma voz original. Sendo certo que tecnicamente domino as artes redatoriais, no sentido da preocupação gramatical e lexical, ter uma voz que me distinga, uma perspetiva profunda e cativante, continua um cabo tormentoso. Ainda não o cruzei, continuo um técnico e ainda não um escritor (essa coisa imensa) e aquele primeiro livro foi um arremedo; mas o que me levou a ultrapassá-lo, aqui e agora, foi precisamente o renascimento desse arremedo, que insistiu em regressar para em boa hora me assombrar. 

O meu livro ressuscitou, dizia, pela mão da Susana Paiva, que o desenterrou neste ano de 2015 para realizar um projeto artístico seu mais vasto - Lugar de Mim - com diversos escritores convidados e um master-class de fotografia em torno do meu livro. Uma dúzia de alunos da EIF (Escola Informal de Fotografiatrabalharam vários meses sobre a obra, leram-na com atenção e com um carinho que me sensibilizou e que me deixou perplexo, refletiram sobre ela, debate-mo-la em conjunto, transformámo-la, dissecámo-la e tudo isto resultou numa exposição e num trabalho de arte pública multimédia que decorreu na Rua dos Gatos, junto à livraria da minha editora e do Largo da Portagem, na noite de 19 de junho. Todo o processo criativo em torno de um livro que já nem era meu, pois praticamente o abandonei à nascença, constituiu uma experiência um pouco estranha, confesso, mas foi das coisas mais bonitas que me aconteceram na vida, pois depois de tantos anos a escrever para os outros nos jornais, dei conta do impacto que outro tipo de palavras podem ter no outro, palavras que retratam a realidade com uma subtileza estranha ao jornalismo e à sua obsessão com factos. serviu também para passar a olhar para esse primeiro livro com mais respeito e ternura. 

Espantou-me, sinceramente, que o livro pudesse tocar as pessoas daquela forma, tão positiva e criativa, ou que pudesse dar azo a tantas leituras e a tantos novos olhares. É assim que aproveito esta prosa introdutória para agradecer a todos os da turma do master class, à Casa da Escrita de Coimbra, e em especial à Susana, o meu muito obrigado! A melhor forma de agradecer, no entanto, é dizer-lhes que o seu trabalho deixou sementes e que me inspiraram a renascer também a mim como autor. Isto é, no sentido de tentativa de escritor. O projeto da Susana Paiva e os trabalhos dos alunos despertaram em mim o potencial criativo e vieram desbloquear alguns processos literários engavetados há muito.. 

Seja como for, é um desperdício que alguém que domine a técnica, não a exerça pelo menos nas horas livres. Sendo que livres é palavra chave.

Como ainda me considero um embrião, pensei com os meus botões que preciso de amadurecer como escritor. E que amadurecer não é só ler nem viver. Também é escrever. Escrever livros, textos literários, histórias e paisagens que me surgem na cabeça. Aqui, além de divulgar outras obras, criações e serviços, quero testar-me, quero testar um público, testar ideias., testar palavras e combinações de palavras e letras E quero ter a sensação de estar a escrever para alguém, mesmo que esse alguém não exista e eu esteja, aqui e agora a escrever para ninguém, risco de que estou consciente e que não me pesa, pois preocupa-me mais o processo criativo e menos o impacto. Por outro lado, como disse, a sensação de escrever e saber que se torna público (que há um potencial leitor) obriga a maior rigor e a redobrada seriedade. E escrever para leitores, como reconfirmei com o projeto da Susana, é uma coisa muito séria.

Este website constitui, assim, antes de mais um projeto de literatura ao vivo. Em cada página uma história que se desenvolve, que cresce, que muda, um rascunho que se altera, até estar considerada definitivamente encerrada (com um Fim) pelo autor. O que pode demorar semanas, meses ou anos. Mas só então passa então a ser um romance, ou uma prosa acabada. 

Até lá, é um trabalho em progresso e sempre que possa, desejevalmente um pouco todos os dias, fou fazendo crescer as histórias. O que proponho aqui é um exercício de escrita online e um laboratório sobre o processo criativo. Como é que se escreve um livro? Não sei, é sempre um mistério. Mas comigo é assim, e convido-vos a entrar na minha oficina.